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O espelho revelava-lhe o rosto cavernoso que se sobrepunha à sua imagem. Ela amava a própria beleza mais do que o Deus criador. No meio das sombras, a luz das velas demonstrava certa resistência, no entanto os lábios daquela imagem que se formara atrás da jovem mulher sopraram tal qual a brisa no mar. A escuridão prevaleceu sobre aquele lugar. A jovem sentia uma sensação gélida que não sabia ao certo descrever. Era como se pedras de gelos estivessem sendo esfregadas suavemente em sua pele dourada. Não aguentando mais a sensação desagradável, começou a caminhar pela casa, apalpando a escuridão, como um cego tenta apalpar as paredes. Sussurros e gemidos podiam ser ouvidos pela moça. Suas pernas magras e compridas tremiam compulsivamente. Fosse o que fosse, alguma coisa estava sedenta por sangue ou faminta por carne, ou até mesmo os dois. Ela esquecera-se de que Deus era uma mera conveniência em momentos de agonia e exaustão. Mal dera cinco passos e continuava no mesmo lugar. Os gemidos insistiam em ecoar ao redor da jovem. O propósito era exatamente esse: fazer com que ela se entregasse ao medo de tal forma a ponto de desmaiar. Ela era inteligente o bastante para saber que nada, absolutamente nada do que ela dissesse mobilizaria a coisa em seu favor. Aquela aberração era institivamente incontrolável. Vendo que as coisas poderiam piorar a qualquer momento, ela lembrou-se de que a arma estava em contato com suas mãos delicadas. Ela segurou-a firmemente, apontou para o vácuo e atirou. O fogo proveniente da bala que saíra pela culatra a fez enxergar o que a estava rodeando. Assim que o dedo indicador movimentou-se para puxar o gatilho ela sentiu-se como uma formiga se sente quando carrega uma pedra muito densa. Os gemidos continuavam a ecoar. "Rnrnrnrnnrnrnrn!".
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