Confissões de um Lobo Solitário - PARTE #4

 

    
    Os anos nos quais me tornei um fanático religioso acabaram desenvelvendo transtornos mentais em mim. No entanto, meu comportamento era o mesmo comportamento dos fariseus da época de Jesus. E por que isso aconteceu comigo? Porque eu me deixei levar pelas heresias e falsos ensinamentos de certos evangélicos. A pressão, o desespero, o auto-rebaixamento, o controle mental e psicológico, a mediocridade, a hipocrisia, tudo isso fazia parte do meu dia-a-dia como um "fantoche" da "Sã Doutrina". Para os leigos, a "Sã Doutrina" é um conjunto de heresias, superstições, subjetividades, equívocos interpretativos, misticismos, costumes, preceitos e tradições criados pelo homem. Sendo assim, aquilo que os fanáticos chamam de "Vontade de Deus" na sua verdadeira essência é a "Vontade dos homens". Certa vez, quando fui jantar numa pizzaria como meu ex-cunhado e com minha irmã, assim que saí do carro fui logo dizendo aos berros paraa o meu ex-cunhado: "Se tu não aceitar a Jesus tu vai pro inferno!". Meu ex-cunhado ficou zombando de mim, enquanto minha irmã ficou irritada comigo e me disse: "É por isso que eu não quero ser crente!". Fiquei envergonhado devido àquela atitude. Mas se você pensa que acabou por aí, sinto lhe dizer, mão não acabou. Um irmão da igreja e eu fomos à casa de umas pessoas idosas. Dentre elas havia uma pessoa que era paralítica. À princípio, tínhamos ido até lá para evangelizar. Eu acreditava que havia uma voz que falava comigo. Passei muito tempo como um fanático de merda pensando nessa besteira. A voz, que na verdade era apenas a minha consciência induzida pelo fanatismo religioso me levou a acreditar que Deus estava falando comigo. Então eu disse para aquele pobre paralítico que Deus estava me dizendo que ele ficaria curado em uma data específica, data essa da qual não me lembro. Nem é preciso dizer o quão esperançoso ficou o coitado. Depois da data que eu havia "profetizado" mentirosamente, eu fui até a casa deles na minha bicicleta. Quando eu entrei, fui diretamente até onde o paralítico estava. E lá estava ele naquela cadeira de rodas, como sempre. Então, vendo que a minha "profecia" não havia se cumprido, com a maior cara-de-pau, perguntei a ele: "Como é que o senhor está?". Ele, com os olhos fixos nos meus, respondeu com um tom de seriedade: "Do mesmo jeito!". Fiquei com tanta vergonha de mim mesmo que eu não sabia onde enfiar a cara. Assim que cheguei em casa, ajoelhei-me e fui questionar a Deus: "Senhor! Por que o Senhor fez isso comigo?".

    Quando eu fazia parte de uma determinada denominação, eu me reunia com alguns irmãos da mesma igreja e ficava com eles conversando. Falávamos mal de todo mundo. Falávamos das outras igrejas, dos que usavam roupas que considerávamos impróprias, dos cachaceiros, dos maconheiros, das facções, dos pastores, dos irmãos da própria igreja. Só não falávamos mal de Deus, isso a gente não fazia. Eu ia para as matas com os irmãos para orar. Confesso que vi coisas bizarras. Tinha um pastor que saiu correndo desenbestado que nem um cavalo selvagem. Induzido pelo psquismo e pelo transe, eu também ficava correndo em círculos e gritando em "línguas estranhas" até minhas cordas vocais se desgatarem. Esse circo todo durava até as 2:00 horas da madrugada. Eu era tão religioso que uma vez eu fiz um voto com Deus dizendo: "Senhor! Vou parar de me masturbar. E se eu me masturbar, o Senhor pode tirar a minha vida!". Acabei quebrando o voto e estou vivo até hoje para contar história. Fiquei com tanto medo da punição divina que me ajoelhei e chorei amargamente pedindo perdão a Deus e para que ELE tivesse compaixão de mim. Minhas primeiras oportunidades para pregar foram um grande besteirol, só falava merda. Eu dava um "tristemunho" dizendo que eu havia vencido a depressão, mas meu emocional e meu psicológico estavam sempre abalados. Eu ia na casa das pessoas e fazia um verdadeiro fuzuê gospel. Colocava a mão na cabeça das pessoas e fazia com que elas caíssem. Meu sonho era ser pastor e mandar nas ovelhas. Hoje, meu sonho é totalmente diferente de há tempos atrás. Eu procurava sempre por alguma resposta que me fosse plausivelmente convincente. Infelizmente só encontrei fanáticos e pessoas hipócritas, tanto quanto eu mesmo. 

    Quando viajei para Cratéus, no Ceará, comecei a frequentar os cultos de uma Igreja Batista que ficava próxima da casa de meu irmão. Fui ouvindo e sendo doutrinado pelo pastor de lá, mas eu ainda estava contaminado pelo fanatismo religioso. Assim que retornei para Floriano, deixei de congregar na igreja da qual fazia parte. Passei por muitas igrejas e vi muitas coisas bizarras, mas a minha fé continuou intacta. Sou grato a Deus por ter me resgatado das mãos perversas dos lobos devoradores. Hoje em dia tenho a verdadeira compreensão do Evangelho e estou sempre estudando a Bíblia para não ser enganado por esses líderes promíscuos que estão aí. Como diziam os antigos: "O golpe está aí, cai quem quer!". O fato é que, eu era um lobo e não sabia.

Postar um comentário

0 Comentários