Capítulo 1
(A História Continua)
Depois de toda aquela festança maravilhosa, Simone e seus amigos caíram no sono até a manhã seguinte. Simone acordara primeiro. Vendo que já era um novo dia, teve ela a destreza de acordar seus demais amigos. — Acordai! Eis que o dia é já nascido!
Raimundo, levantando-se de vagar, esfregou os olhos como quem ainda estivesse com sono e lhe disse. — Que horas são? — Eu não sei, mas temos de nos levantar, pois este momento é mais uma dádiva que nos é concedida. – (disse-lhe Simone). — Porque nos acordaste a esta hora, cara Simone? Poderíamos passar um tempinho a mais tirando a nossa bela soneca. – (resmungou Mininho). — Precisamos cantar a canção da alegria. Só assim nosso dia será bem-sucedido! – (replicou-lhe Simone). — Tens razão. Nossas flores se alimentam de nossos louvores também. – (disse-lhe Tod). — Então vamos todos dar-nos as mãos! – (exclamou-lhes Seneco com tamanha alegria). E assim, todos deram-se as mãos e então começaram a cantar:
♫Eis que o dia já nasceu
Vamos juntos dar as mãos
Pois o Sol resplandeceu
Somos mais do que irmãos
Um sorriso é valioso
E um abraço, muito mais
Pois viver é tão gostoso
Amizade é bom demais♫
Após a bela canção, todos pularam unânimes e caíram no gramado sorrindo uns para os outros. Enquanto eles sorriam, chegou-lhes um antigo amigo.
Capítulo 2
(Preparem-se!)
Ele estava acompanhado por oito ursos enormes de cor marrom. Os olhos de Simone foram atraídos pela presença do tal amigo. Assim como Simone, os demais olharam para o ser desconhecido que estava acompanhado pelos tais ursos. Os únicos que não o reconheceram foram Frequeco, o urubu, Machí, o pinscher, e Caquito, o chipanzé. — Há quanto tempo, meus caros? – (disse-lhes o ser desconhecido). — Toucinho!!! – (exclamou-lhe Simone enquanto levantava-se para ir abraçá-lo). Ele, porém, conteve a cara Simone, repelindo-a para trás. — Não me abraces, pois tu e teus amigos zombastes de mim. – (disse-lhe o mesmo). Toucinho era um porquinho que vivia em companhia juntamente com Simone e seus caros amigos. No entanto, certa vez, Raimundo, o coelho, colocara-lhe um apelido que o fizera sentir-se tão ofendido que o tal do Toucinho os abandonara de vez. Todas as vezes que Raimundo o apelidava de “Toicin”, ele ficava tão vermelho, tão vermelho, que começava a gaguejar de tanta raiva. — Que bom tu vieste, Toicin! Vieste para ficar conosco? – (perguntou-lhe Raimundo já sabendo de sua reação). O porquinho começou a ficar vermelho e assim começou a gaguejar. — Na-na-não me cha-cha-cha-chames de “Toicin”, seu Coelho maltrapilho. Tu sa-sa-sa-sabes muito be-be-be-be-bem que-que-que-que-que-que eu-eu-eu-eu não go-go-go-go-go-go-gosto de-de-de-de-de ser cha-cha-cha-cha-cha-ma-ma-ma-ma-ma-do assim!
Raimundo e os demais amigos de Simone começaram a zombar do pobre porquinho dando altas gargalhadas. Toucinho apimentou-se mais ainda. — Parai agora! Vós sois to-to-to-to-dos uns chatos. – (exclamou-lhes em alta voz). No entanto, quanto mais o porquinho pedia para eles pararem de rir, mais ainda os amigos de Simone gargalhavam. Somente a cara Simone estava séria. De tanto provocarem a raiva de Toucinho, ele então ordenou aos ursos grandes dizendo-lhes. — Ursos! Co-co-correi atrás deles!
Os ursos, então, obedeceram à voz do porquinho e assim começaram a correr atrás de Simone e de seus demais amigos.
Capítulo 3
(Cada um para o seu rumo)
Cada um começou a correr por direções diferentes. Tod e Mininho fugiram para uma região onde havia pequenos rios, escondendo-se detrás das árvores da floresta que ficava próxima ao jardim dos girassóis. Raimundo fugiu para longe e escondeu-se atrás do milharal. Seneco fugiu para sua casa. Machí e Caquito partiram para outra região repleta de cavernas. Frequeco, o urubu, saíra voando, e Simone correra para bem distante, até chegar em outro jardim, no entanto, não havia girassóis no tal jardim. Nesse jardim tão belo e verdejante havia um poço. Simone estava transpirando de tão cansada, pois ela fizera muito esforço para correr do tal do urso. Enquanto ouviu sua própria respiração ofegante e seu coração pequeno bater ligeiramente, eis que uma voz ecoou de dentro do poço. — Socorro! – (exclamou a voz). — Quem está aí? – (perguntou Simone pensando que fosse um dos ursos escondido por detrás das moitas. — Tirai-me daqui, pelo amor dos girassóis! – (exclamou novamente a voz em alto e bom som). — Simone, que estava sentada de costas para o poço, virou-se para ver quem chamara por ela. A menina dirigiu-se ao poço e olhou para ver quem era. No fundo, havia um pequenino gafanhoto batendo suas patinhas para não se afogar. Simone sentiu-se atordoada. — Não te preocupes! Eu hei de tirar-te daí em breve. – (exclamou a garota). Simone tentou procurar por alguma coisa que pudesse ser usada com uma corda, porém não encontrara. Foi, então, que ela teve a ideia de arrancar as folhas finas do mato e assim começara a dar um nó firme nas pontas. Depois de bastante tempo, ela conseguira providenciar uma enorme corda feita com folhas do mato. Simone foi até o poço e assim desceu a corda poço abaixo. O pequeno gafanhoto agarrou firme a corda. — Podes puxar! – (disse-lhe o gafanhoto). Simone puxou bem devagar a corda até fazer com que o pobre gafanhoto chegasse ao topo do poço. Assim que o tal do gafanhoto pousou os pés sobre a boca do poço ele fitou atentamente os olhos de Simone. O pobre inseto quase caíra novamente no poço de tanta admiração que apossou-lhe o coração. Ele quase desmaiou. — Como tu és bela! – (disse-lhe o gafanhoto). — Obrigada! Como te chamas? – (perguntou-lhe). O gafanhoto fez-lhe uma reverência cavalheiresca e disse-lhe. — Sou Pebeu, o gafanhoto. — Vejo que és um gafanhoto. Mas, como vieste parar no fundo do poço? – perguntou-lhe a cara Simone). — Eu sei o que acabaste de pensar. Deves ter pensado contigo mesma porque não usei as minhas asas para sair deste profundo e assombroso poço. – (disse-lhe o gafanhoto). — Sabes que eu não havia pensado em tal proposição? Apenas vi-te e fiquei aflita de espírito. Então propus-me a ajudar-te. – (disse-lhe Simone). — Pois saibas que sou eternamente grato a ti. Como te chamas mesmo? – (perguntou-lhe o gafanhoto). — Meu nome é Simone. – (respondeu-lhe). — Simone de quê? – (perguntou-lhe novamente). — Não possuo um sobrenome. Apenas Simone e nada mais. – (respondeu-lhe Simone). — Tu és tão bela quanto os girassóis desta cidade imensa. Queres casar-te comigo? – (perguntou-lhe o gafanhoto). — Ficaste louco? Tu és um gafanhoto, e eu sou apenas uma menina. Não tenho idade o suficiente para casar-me. – (respondeu-lhe a menina sorrindo). — Se quiseres, posso pedir aos girassóis para que te transformem em uma gafanhota. Dessarte, poderias casar-te comigo. – (disse-lhe o gafanhoto). — Que as pétalas me livrem. Gosto de ser assim mesmo como sou. Caso contrário, viveria chorando pelos cantos estranhando tão repentina natureza. – (disse-lhe). — Mas tu podes acabar gostando. Certamente serias uma bela gafanhotinha. – (disse-lhe Pebeu). — Nenhuma natureza pode ser modificada sem um motivo plausível. – (disse-lhe Simone). — Mas este é um motivo plausível. – (retrucou-lhe o gafanhoto). — Não me interponhas entre a loucura e a sanidade. – (disse-lhe Simone). — Contar-te-ei o que me sobreveio. Estava eu tocando o meu violino e cantando a minha canção, coisa que costumo fazer todos os dias, quando eis que de repente aparecera um porquinho acompanhado por ursos enormes. Ele me disse que o som de meu instrumento incomodava-lhe os ouvidos. Disse a ele que bastava sair de minha presença e assim ele não mais se incomodaria com a minha canção. Ele, então ofendeu-se e assim ordenou aos ursos que arrancassem à força as minhas asinhas. Depois de arrancadas as minhas asas, o tal do porquinho jogou-me poço abaixo. Fiquei por mais de uma hora batendo as pernas e mãos para não me afogar. – (disse-lhe o gafanhoto). — E quanto ao teu violino? – (perguntou-lhe Simone). — Os ursos passaram por cima dele deixando-o totalmente obstruído. – (disse-lhe Pebeu). — Olha pelo lado bom. Pelo menos podes cantar com a tua voz. – (disse-lhe). — Posso acompanhar-te? É que não tenho pousada fixa, e qualquer lugar que seja modesto e aprazível pode ser considerado meu lar. – (disse-lhe Pebeu). — Podes me acompanhar. Seremos amigos de agora em diante. – (concluiu Simone).
Simone e Pebeu, o gafanhoto, começaram a caminhar. — Para onde pretendes ir? – (perguntou-lhe o gafanhoto). — Hei de sair em busca de ajuda. – (respondeu-lhe Simone). — Estás perdida, ao acaso? – (perguntou-lhe). — Não. É que esses mesmos ursos de que me falaste correram atrás de mim e eu estou fugindo deles. – (respondeu-lhe). — Por acaso conheces o porquinho de que te falei agora há pouco? – (perguntou-lhe Pebeu). — Sim! Ele era nosso amigo. Contar-te-ei a história enquanto vamos caminhando. – (disse-lhe Simone).
E assim Simone foi contando-lhe os minuciosos detalhes enquanto ambos caminhavam para outro lugar.
Capítulo 4
(Cuidado!)
Seneco quase fora pego pelo urso grande. Enquanto ele corria, suas pernas estavam trêmulas de tanto medo, a ponto de quase cair. Sorte a dele ter chegado a tempo em sua casa. Após ter entrado, ele trancou imediatamente a porta da entrada e a porta dos fundos. O urso, feroz e raivoso, rodeava a casa insistentemente. — Vai-te embora, seu urso! – (exclamou Seneco em alta voz). Havia um canavial que Seneco havia plantado em seu quintal. Assim que o urso deu-se conta de que havia vários pés de cana-de-açúcar, seus olhos brilharam feito as estrelas. O urso dirigiu-se ao canavial e começou a agarrar os caniços e a morder a cana, extraindo assim o açúcar tão doce e agradável ao paladar. Enquanto o tal do urso distraía-se com a cana-de-açúcar, Seneco, abriu a porta da frente lentamente e assim fugira daquele lugar. Tod e Mininho estavam bebendo da água do rio cristalino, pois de tanto correrem, eles acabaram ficando com sede. Depois de terem se saciado, Tod olhou para Mininho e lhe disse. — Será que o urso está escondido atrás de algumas dessas árvores da floresta? — Creio que não, pois, do contrário, já teríamos sido devorados. – (disse-lhe Mininho). — Porque cargas d’água o tal Raimundo fora apelidar o coitado? – (disse-lhe Tod). — Tu já o conheces desde sempre. Raimundo sempre fora um coelho bobalhão. – (retrucou Mininho). — Mas não havia necessidade. Uma vez que estávamos todos sossegados, justamente ele teve de tirar a nossa paz. – (indagou o urso de pelúcia). — Não é nenhuma novidade de que Raimundo sempre meteu-nos em confusão. – (disse-lhe Mininho enquanto lavava o rosto com a água do rio). — E porque ele faz sempre isso, hein? – (perguntou o ursinho). — Porque todo coração espinhoso nunca é capaz de florescer. – (respondeu-lhe o morango).
Assim que eles se voltaram para trás, deram de cara com uma onça pintada.
Capítulo 5
(Novas fronteiras)
Frequeco estava em cima de um limoeiro. O outro urso pardo estava sacudindo a árvore no intuito de derrubar o urubu. Frequeco estava caçoando do urso dizendo-lhe. — Seu paspalhão! Não vês que sou um urubu? Mesmo que consigas derrubar este limoeiro, contudo, ainda posso sair voando por aí. Os limões caíam do pé feito a água da chuva. Mesmo assim, o abutre continuava a caçoar do urso. — Uca, Uca! Jamais me alcançarás. O tal urso ficou tão irritado que começou a subir no limoeiro. Frequeco engoliu seco e saiu voando imediatamente. Foi assim que o animal feroz desceu da árvore e saiu na direção do urubu. De tanto correr atrás de Frequeco, o urso cansou-se e parou de persegui-lo.
Tod e Mininho estavam roxos de tanto medo, pois a onça encarava-lhes com suas presas enormes. Eles estavam certos de que a tal onça iria assim devorá-los. Eles, então, abraçaram-se com todo o ímpeto e assim clamaram aos girassóis para que os livrassem do presente perigo. Após alguns segundos de pura tensão e medo, a onça deitou-se no gramado e disse-lhes. — Que que há? Não vos precipiteis! Até parece que eu vou comê-los. — Não nos devorarás? – (perguntou-lhe Tod). — Pensai a respeito. Um ursinho de pelúcia não deve ter gosto de nada, e também, eu não gosto de morangos. – (indagou-lhes a onça). Mininho e Tod olharam-se sorrindo um para o outro e sentindo grande alívio. — Ainda bem, pois somos muito pequenos, e como bem sabes, comida pouca não preenche o vazio. – (afirmou-lhe Mininho). — Deixai que me apresente. Sou Flóridas, o guardião desta floresta. – (disse-lhe a onça). — É um prazer conhecer-te. – (disseram-lhe os amigos). — Não! A honra é toda minha. É... se me permitis a indagação, por qual motivo estais aqui? – (perguntou-lhe a onça). — Um urso está nos perseguindo. Talvez ele esteja aqui na floresta a nos espreitar. – (disse-lhe Tod). — Tenho andado por toda esta floresta e até agora não avistei nenhum urso por aqui. – (retrucou-lhes a onça). — Talvez ele tenha subido em algumas destas árvores da floresta. – (disse-lhe Mininho). — Creio não ser possível, pois todas as árvores desta floresta são demasiadamente íngremes. – (aquiesceu o felino). — Poderias acompanhar-nos até o jardim onde ficam os girassóis? Estamos com medo de sermos perseguidos pelo tal urso. – (perguntou Tod). — Lamento não ser possível, pois tenho o dever de proteger esta floresta. Tão certo como vivem os girassóis, esta é a minha obrigação para com a mãe-natureza. – (disse-lhes a onça). — Tudo bem. Nós compreendemos. De qualquer modo, agradecemos por tua companhia. – (disse-lhe Mininho). — Grata por vossa generosidade. – (concluiu a onça).
Capítulo 6
(Contrato)
Simone e Pebeu estavam andando e andando, até chegarem num certo ponto. Entre os gramados e flores de várias espécies, havia um cacho com várias abelhas entrando e saindo. Pebeu ficou deveras temoroso de aproximar-se das abelhas. Simone o acalmara dizendo-lhe. — Não tenhas medo. Sou conhecida por cada uma delas. — E o que hás de conversar com elas? – (perguntou-lhe o pequeno gafanhoto). Simone dirigiu a palavra às abelhas e perguntou-lhes. — Bom dia! Será que eu posso fazer com vossa rainha? — Certamente, minha nobre Simone! – (respondeu-lhe uma das abelhas operárias). Após terem chamado a abelha-rainha que estava dentro da colmeia, ela saiu e assim aproximou-se de Simone. — Cara Simone! A que vieste? – (perguntou-lhe a rainha). — Preciso de vossa ajuda. Toucinho, o porquinho, veio até nós e nos expulsou do jardim dos girassóis com seus ursos ferozes. Peço-vos encarecidamente que venhais tu e vossas abelhas operárias para expulsá-los. – (disse-lhe Simone). — Faremos tal coisa, entretanto, com uma condição. – (disse-lhe a rainha). — Qual? – (perguntou-lhe Simone). — Precisamos de água para saciarmos nossa sede. Embora o poço fique a uns três quilômetros daqui, contudo, não temos quem tire a água do poço para nós. – (disse-lhe a abelha). — Não vos entristeçais, pois toda carência é efêmera. – (disse-lhe Simone). — Combinado! Quando tu nos trouxeres a água minhas operárias e eu iremos convosco. – (concluiu a abelha-rainha). — Combinado! – (disse-lhe Simone sorrindo alegremente).
Simone, em sua ingenuidade, já considerara a batalha já vencida. Porém, algo inesperado lhe aguardava.
Capítulo 7
(Dentro do buraco)
Machí e Caquito esconderam-se num buraco que houvera sido cavado por um tatú. Devido ao escuro, eles não tiveram como saber que o tatú estava entre eles, pois após terem entrado, eles taparam-no com as folhas de uma planta chamada Costela-de-adão. O urso feroz ficara cheirando as folhas para ver se eles estavam por perto. Machí e Caquito fizeram silêncio prolongado, até que o tal do urso desistisse de procurar por eles. Assim que o animal fora embora, o tatú, que estava junto com eles, perguntara-lhes. — Porque vós não cavastes o vosso próprio buraco? — Estávamos com medo do urso pegar-nos. – (respondeu-lhe Machí). — Eu vi o tal do urso perseguindo-vos, mas não agradei-me de ter-vos abrigado, pois não gosto de visitas. – (disse-lhes o tatú). — Perdoa-nos a nossa intromissão, mas não tivemos outra alternativa a não ser entrarmos neste buraco. – (respondeu-lhe Caquito). — Podeis tirar as folhas. Está um bocado escuro aqui dentro. – (exigiu o tatú). Caquito afastou as folhas permitindo assim que a luz do Sol iluminasse a parte de dentro do buraco. — Agora que está mais claro posso apresentar-me. Meu nome é Rafiní. E quais são os vossos nomes? – (perguntou-lhe o tatú). — Eu sou Caquito, e este é meu o amigo Machí, o pinscher. – (respondeu-lhe o macaco). — Acaso sois amigos de Simone? – (perguntou-lhes o tatú). — Sim, somos. – (respondeu-lhes Machí). — E porque não estais com ela? – (perguntou-lhes novamente). — É que chegou um antigo amigo dela com seus ursos ferozes e mandou que os tais nos atacassem. A partir de então, cada um tomou o seu próprio rumo. – (respondeu-lhe o macaco). — Se quiserdes, podeis ficar aqui neste buraco pelo tempo que desejardes. – (disse-lhes o tatú). — Agradecemos tamanha generosidade. No entanto, precisamos retornar ao jardim dos girassóis e procurar por nossa cara Simone, pois quem sabe aonde fora parar? – (indagou-lhe o Machí). — Conheço um grupo de porcos-espinhos que poderiam ajudar-vos nesta batalha. No entanto, eles moram a mais ou menos trinta quilômetros daqui. – (disse-lhes o tatú).
Machí e Caquito sentiram-se desconsolados, pois àquela altura, nada poderiam fazer em favor de Simone e dos demais amigos. Eles, então despediram-se do tatú e assim subiram de volta para assim prosseguirem em sua jornada.
Capítulo 8
(Um Pedido de Perdão)
Simone e Pebeu retornaram ao lugar onde estava o poço. No entanto, ao verificarem se tinha água no poço depararam-se com tamanha decepção. Um dos ursos havia entulhado o poço por completo com terra. O poço estava coberto até à metade pela terra do chão. Simone sentiu uma angústia profunda dominar-lhe e assim começou a chorar de joelhos. — Minha nobre Simone. Não te desesperes. Daremos um jeito. Daremos um jeito. – (disse-lhe Pebeu tentando consolá-la). — Que jeito daremos, se o poço fora entulhado? O que nos resta é ficar lamentando. – (disse-lhe Simone). Enquanto Simone soluçava de tanto chorar, o sapo Edgar e a sapa Matilda apareceram-lhe dizendo.
— Por que choras, cara Simone? — É que tínhamos feito um acordo com a abelha-rainha. Caso levássemos água para ela e seus operários, eles nos ajudariam a combater o porquinho Toucinho. – (respondeu-lhes Simone ainda soluçando). — Não fiques assim. Vamos cantar a canção universal. – (disse-lhe Matilda). — Que canção é essa? – (perguntou-lhes Simone curiosa). — A canção universal. A canção que cantamos toda vez que queremos falar com Califa, a criadora do universo. – (disse-lhe Matilda). — Acho que conheço esta canção. – (disse-lhes Pebeu). — Pois então fiquemos de pé para cantarmos a canção de mãos dadas. – (exclamou Matilda). Simone engoliu o choro e assim levantou-se, dando as mãos em seguida para Matilda e os demais presentes. Pebeu, Edgar e Matilda começaram a cantar a música, que dizia assim:
♫Tu fizeste o universo
Tão formoso e muito belo
Com a Lua prateada
E o Sol tão amarelo
Os jardins que Tu fizeste
são bastante verdejantes
Oceanos e Montanhas
são bonitos e tão grandes
Quero ver a tua beleza
em meu rosto iluminar
Majestade, Majestade
Nos ensina a amar♫
Depois de terem cantando a canção universal, o Sol resplandeceu fortemente, como uma lamparina ascendida em meio à escuridão. Uma mulher de cabelos longos e áureos, com seu vestido majestoso amarelo e comprido, descera do céu atravessando as nuvens de algodão. Seus pés descalços pousaram firmemente na grama seca. Simone e seus amigos ficaram estupefatos ao verem tamanha majestade em um ser tão iluminado. A mulher, que até então estava com seus olhos fechados, abriu-os. Eram azuis tais quais o oceano. — Esta é a primeira vez que nos encontramos, minha cara Simone! – (disse-lhe a mulher). Simone tentou pronunciar alguma palavra, mas não conseguira. A mulher andou na direção da menina e a abraçou. Simone sentiu tamanha ternura apossar-se de seu coração sedento. Após ter abraçado a menina, ela abraçou o sapo Edgar, a sapa Matilda, e o gafanhoto Pebeu. — Ao invés de convenceres as abelhas a atacarem o porquinho Toucinho, aconselho-te a fazer uma coisa melhor. – (disse-lhe a mulher). — Como sabes que eu pretendia fazer tal coisa? – (perguntou-lhe Simone surpresa). — Eu sei tudo o que se passa no universo. Inclusive tudo o que se passa dentro do coração de cada ser que habita neste mundo. – (respondeu-lhe a mulher). — O que devo fazer, então? – (perguntou-lhe Simone). — Procura por Raimundo e convence-lhe a pedir perdão com toda a sinceridade ao porquinho Toucinho. – (disse-lhe a mulher). — Mas eu não sei onde está Raimundo. – (disse-lhe Simone). — Não te preocupes. Hei de levar-te até ele num piscar de olhos. — (disse-lhe). — Mas, e se Raimundo não der-me ouvidos. E se se, mesmo que Raimundo peça perdão para Toucinho, ele não consiga perdoá-lo? – (perguntou Simone). — Não te preocupes. O que há de ser, será. – (respondeu-lhe a mulher). — Como te chamas? – (perguntou Simone curiosa). — Sou Califa, a criadora do universo. – (respondeu-lhe a mulher). — És tão bela quanto os girassóis de que tanto cuido. – (disse-lhe Simone). — Grata! Agora, hei de levar tu e teu amigo Pebeu até o lugar onde Raimundo está. – (disse-lhes Califa). Califa estalou os dedos, e, de repente, num piscar de olhos, Simone e Pebeu já estavam em outro lugar. Raimundo estava detrás de uma moita, temeroso de ser pego por um dos ursos. Califa já não estava mais com Simone e Pebeu, pois ela havia retornado para o seu reino encantado. A voz de Califa ecoou de dentro do pequeno coração de Simone. — Sabes o que tens de fazer. – (disse-lhe a voz majestosa). — Vamos lá, meu caro Pebeu. – (disse a menina para seu amigo gafanhoto). Assim que Simone e Pebeu apareceram por detrás do coelho, Raimundo foi tomado por um grande susto. — Cara Simone! O que estás fazendo aqui? E quem é este pequeno gafanhoto? – (perguntou-lhe). — Meu nome é Pebeu. Sou o novo amigo de Simone. – (respondeu-lhe o gafanhoto). — Raimundo! Preciso falar-te uma coisa. – (disse-lhe Simone em um tom de voz sério). — Podes dizer, cara Simone. – (disse-lhe o coelho). — Deves voltar para o jardim dos girassóis e pedir perdão para Toucinho. – (disse-lhe Simone). — Porque eu deveria fazer isto? – (perguntou-lhe Raimundo em um tom grosseiro). — Porque tu o ofendeste com tal apelido. Por isso ele abandou-nos. – (respondeu-lhe Simone). — Não pedirei perdão para ele nem que a vaca tussa. – (respondeu-lhe novamente em um tom grosseiro). — Tudo bem. Tu fizeste a tua escolha. – (respondeu-lhe Simone decepcionada). — Coelho burro! – (exclamou Pebeu). — Burro és tu. – (respondeu-lhe o coelho).
Simone e Pebeu decidiram voltar para o jardim dos girassóis, pois Simone, assim como os demais amigos, sabia o caminho de volta.
Capítulo 9
(O Retorno)
A abelha-rainha estava decepcionada, pois já fizera muito tempo que Simone não retornara com a água. Havia um buraco próximo à árvore onde estava o cacho de abelhas. A abelha-rainha pensara consigo mesma. — Simone certamente esqueceu de nós.
Após alguns minutos, eis que as nuvens começaram a tapar o Sol. A densa chuva começara a cair do céu enchendo o buraco que se encontrava perto das abelhas. A abelha rainha ficara contente, pois agora não apenas ela como também suas operárias podiam saciar sua sede. A chuva fora mandada por Califa, a criadora do universo. A abelha-rainha pensara consigo. — Já que a cara Simone não nos trouxera água, logo não há nenhuma dívida para com ela. As abelhas operárias, juntamente com sua rainha foram em direção à água para matarem sua sede. Seneco estava quase chegando ao jardim dos girassóis, lugar onde Simone e seus amigos se encontram para brincar e festejar. Enquanto Frequeco voava em meio àquela chuva torrencial ele avistara Seneco. Então ele pousara em seu ombro direito. — Uma baita chuva, não é, cara amigo? – (disse-lhe o abutre). — Ainda bem que vieste. Precisamos encontrar Simone. – (disse-lhe Seneco). —Tenho voado por aí e não a encontrei em canto algum. – (disse-lhe Frequeco). — Quiça, tenhamos a sorte de encontrá-la. – (disse-lhe o urubu).
Depois de Simone ter partido com Pebeu, Raimundo sentira grande pesar e assim decidira ir atrás deles, porém, seguindo outro caminho. Tod e Mininho, estavam prestes a chegar ao jardim. Edgar e Matilda, sua esposa, retornaram para casa. O coração de Simone estava temeroso, pois ela não sabia como estavam seus amigos. Uma parte dela lhe dizia que estava tudo bem, enquanto a outra lhe dizia que não estava.
Capítulo 10
(O bem sempre vencerá!)
Toucinho estava arrancando os girassóis daquele imenso jardim. — Eles vão ter uma surpresa assim que retornarem para cá. – (dizia ele consigo mesmo e sorrindo maldosamente). Os primeiros a chegarem ao jardim foram Tod e Mininho. Eles ficaram tristes ao verem o porquinho arrancando as plantas e destruindo os girassóis que Simone tanto amava. — Toucinho! O que estás fazendo? – (perguntou-lhe Mininho). — Não estais vendo? Estou destruindo aquilo que Simone mais ama, ha-ha-ha-ha! – (exclamou o porquinho enquanto gargalha perfidamente). Toucinho pisava com todo o ímpeto em cima dos girassóis. Seneco e Frequeco chegaram logo em seguida. — Seu paspalhão. Porque estás fazendo isso? – (exclamou Seneco, o agricultor). — Estou me vingando de cada um de vocês, seus tolos. Não vedes o que fizestes comigo? – (exclamou o porco). Tod partiu para cima de Toucin no intuito de impedi-lo de continuar fazendo tamanha perfídia. Mininho tentara segurá-lo, porém não conseguira. Assim que Tod, o ursinho de pelúcia aproximou-se de Toucinho, o porquinho dera um pontapé bem forte na barriga do ursinho. Tod fora jogado para bem longe. Então Toucinho, com seu instinto malvado, andou na direção do ursinho e começou a erguê-lo com as mãos. — Eu sei o que hei de fazer contigo. – (disse-lhe o porco olhando bem fundo nos olhos do pobre ursinho de pelúcia). O porco flexionou as duas mãos para tentar rasgá-lo ao meio. No entanto, Simone e Pebeu chegaram neste exato momento. — Não faças mal ao meu amigo Tod, eu te rogo. – (implorou a menina). — Acaso viste o que fiz com os teus girassóis? – (perguntou-lhe Toucinho). — O que fizeste? – (perguntou Simone sentindo o coração palpitar). — Olha ao teu redor. Eu destruí um por um. Agora os teus girassóis estão mortos. – (respondeu-lhe o porco). Simone pôs-se a chorar novamente. A mágoa apossara-se de seu coração em questão de segundos. — Seu porco sujo e malvado. Porque fizeste isso? – (resmungou a garota). — Ainda tens a destreza de perguntar-me o porquê? Tu e teus amigos me feristes. Principalmente o teu amigo Raimundo. Espero que à essa altura o urso o tenha devorado. – (exclamou o porco).
Após Toucinho ter acabado de pronunciar essas palavras, o coelho Raimundo apareceu. — Se é a mim que queres apedrejar, eis-me aqui, então. – (disse-lhe o coelho). — Agora é tarde, caro Raimundo. Tu me ofendeste até o dia em que não aguentei mais. Agora terás de pagar o preço. – (disse-lhe Toucinho).
Toucinho partiu o ursinho Tod ao meio. Simone e seus amigos ficaram estupefatos devido à maldade do tal porquinho. Simone gritou, dizendo. — Seu porco malvado! Não deverias ter feito isso com nosso amigo Tod. — É como dizem: “feridas abertas são difíceis de cicatrizar!”. Raimundo colocou-se à frente dos amigos e então ajoelhou-se dizendo. — A culpa é toda minha, Toucinho. Nunca deveria ter-te apelido. Reconheço que é grande o meu pecado, e terrível a minha transgressão. Por isso é que peço-te perdão com toda a sinceridade. Serias tu, pois, capaz de perdoar-me? – (perguntou-lhe Raimundo de braços abertos e com lágrimas nos olhos). Toucinho sentiu seu coração aquebrantar-se de tal maneira, que por um breve segundo ele desistira da ideia de vingança. Entretanto, as memórias dos tempos passados em que ele fora ofendido retonaram-lhe à mente fazendo-o entregar-se à cólera e ao rancor. — Achas mesmo que eu vou perdoar-te simplesmente porque me fizeste um pedido de perdão tão medíocre como esse? – (disse-lhe o porco). Toucinho carregava em seu pescoço um apito mágico que fazia com que os ursos retornassem para onde ele estava. Após soprar o seu apito com tamanha força, os ursos apareceram por detrás das moitas e puseram-se à frente de Toucinho. Após terem se organizado, Toucinho encheu os pulmões de ar e disse em alta voz. — Ataquem-nos! Não deixeis sobrar nem um sequer. Devorai todos eles.
Neste exato momento, chegaram Caquito e Machí, o pinscher. Vendo que os oito ursos iriam avançar para atacá-los, Simone e seus amigos puseram-se a correr. Toucinho estava contemplando aquela cena gargalhando de tanta alegria. Depois de alguns segundos, eis que algo surpreendente aconteceu. Os ursos transformaram-se do nada em filhotes dóceis e amáveis. Desta forma, todos pararam de perseguir os demais e passaram a brincar uns com os outros de maneira amigável. Toucinho ficara confuso. — Mas o que que está acontecendo aqui? – (perguntou o porco a si mesmo). Vendo que os ursinhos estavam brincando, o porquinho soprou em seu apito e disse. — Correi atrás deles!
No entanto, o apito perdera totalmente o seu poder e os ursinhos continuavam a brincar uns com os outros. — Não me ouvistes? Eu mandei correrdes atrás deles. – (exclamou ele em alta voz). No entanto, de nada adiantara, pois lá continuavam eles a brincar. Simone e seus amigos ficaram tranquilizados, pois agora, não havia mais nenhum tipo de perigo iminente. Toucinho continuava a soprar o seu apito, outrora mágico. Enquanto ele soprava com toda força, um enxame de abelhas apareceu do nada e assim avançou atrás do tal porquinho. — Não! Não! – (exclamou o porquinho com muito medo). Toucinho começou a correr para bem longe enquanto as abelhas davam picadas em seu rabicó. Ele saltava para frente de tanta dor que sentia. Simone e seus amigos ficaram apenas olhando e gargalhando, pois aquela cena era muito engraçada. E assim fugiu Toucinho para bem longe da vista dos demais. As abelhas perseguiram-no até uma região habitada por leões. Assim que Toucinho parou de correr, viu-se sozinho em um lugar totalmente desconhecido. As abelhas haviam parado de persegui-lo. — Onde estou? – (perguntou ele a si mesmo). Enquanto ele olhava ao redor, alguns leões apareceram do nada. Ao fitarem os olhos no porco, eles lamberam os beiços dizendo. — Pelo visto, hoje tem jantar.
Toucinho implorou a eles dizendo-lhes. — Não façais ta-ta-ta-ta-manha ma-ma-ma-maldade comigo. Eu sou um po-po-po-po-pobre por-por-porquinho que não te-te-tem onde mo-mo-mo-morar. – (disse-lhes Toucinho na tentativa de convencê-los). No entanto, os leões avançaram e partiram para cima do porco e assim o devoraram.
Simone e seus amigos estavam contentes, pois Toucinho nunca mais lhes faria nenhum mal. Simone foi até Tod, o ursinho de pelúcia. — Tod! Ainda estás vivo, meu querido amigo? – (perguntou-lhe). — Sim, nobre Simone. – (respondeu-lhe o ursinho). — Não te preocupes, pois hei de costurar-te. Deste modo, ficarás novo em folha. – (disse-lhe Simone sorrindo). Seneco aproximou-se de Simone e lhe disse. — Não te preocupes. Eu tenho uma agulha e um novelo de linha dentro de meu bolso esquerdo. — Sendo assim, podes costurar o nosso nobre amigo Tod? – (perguntou-lhe Simone). — Claro que sim. Não demorará nem um segundo para costurá-lo. – (disse-lhe Seneco). Seneco, o agricultor, tirou a linha e a agulha de seu bolso e então começou a costurar o ursinho Tod. Após ter terminado, ele colocou o ursinho de pé e lhe perguntou. — Consegues andar livremente?
Tod começou a andar aos poucos até tomar o jeito de caminhar naturalmente. Olhando para Seneco, Tod respondeu-lhe. — Sim, consigo. Obrigado pela gentileza. — Disponha, meu nobre. – (disse-lhe Seneco). — Bem... agora o que nos resta é cantar a nossa canção. – (disse-lhes Simone). — A canção da amizade? – (perguntou-lhe Mininho). — Sim. Vamos dar as mãos e cantar, pois este dia foi gratificante, embora difícil. – (disse-lhes Simone). Todos deram-se as mãos para cantar a canção da amizade. A letra da música dizia o seguinte:
♫Nós seremos sempre amigos
Este é o nosso dever
Aprendemos todo dia
Como a vida deve ser
Vamos juntos proclamar
A canção da união
Abraçar e perdoar
Esta é a nossa missão♫
A chuva continuava a cair poeticamente sobre os rostos amistosos dos amigos. Tamanha era a alegria deles. Seus sorrisos eram compartilhados entre si de forma amável e extremamente simpática. Califa observava a dança melódica dos amigos em seu trono majestoso. E assim viveu Simone mais um longo dia na Terra dos Girassóis.
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