Capítulo 1
(Um Mundo Encantado)
Estavam todos pulando e dançando juntos naquele imenso jardim. A música ressoava agradavelmente aos ouvidos dos pequenos amigos. Eles estavam cantando alegremente a seguinte canção:
♫Eu tagarelarei
Tu tagarelarás
Ele tagarelará
Nós tagarelaremos
Vós tagarelareis
Eles tagarelarão♫
Após a bela canção, Simone descansou por um tempo e retomou a conversa.
— Soubeste do casamento que ocorrerá? — Não. Qual? - (perguntou-lhe Tod, o ursinho de pelúcia). — O casamento do sapo Edgar, com sua esposa Matilda. - (respondeu-lhe Simone). — Creio que este será o casamento do século. - (disse o ursinho). — Temo chegar atrasada, pois tenho um compromisso deveras fatigoso. - (suspirou Simone). — E que compromisso seria este, cara Simone? - (perguntou-lhe Mininho, o morango falante).
— Preciso podar as folhas do jardim, pois quero que o mundo seja belo tal qual almejo vê-lo. - (disse Simone). — Porém, não seria tamanho trabalho? - (disse-lhe Raimundo, o coelho). — Creio que não, pois aquilo que se faz com apreço não deixa nenhum vestígio de sofrimento. - (retrucou Simone). — A hora chegou! Infelizmente preciso cuidar de minha horta. (disse-lhe Seneco, o agricultor). Após a partida de Seneco, um passarinho azul veio sobrevoando o imenso céu azul.
Capítulo 2
(Boas Novas)
O passarinho pousou sobre uma pedra e começou a dizer. — Um mau presságio cá se aproxima. — Presságio? – exclamou a pequena Simone. — Sim! - (disse o passarinho azul). — Que foi que fizemos para nos sobrevir tamanho mal? – (exclamou Mininho). — Precisamos ser fortes. – (disse Tod, o urso, em um tom desbravador). — Que será que vem por aí? – disse Raimundo, o coelho). — E como é que vou saber? – retrucou Simone rispidamente. — Devemos acalmar os ânimos, pois toda tragédia pode ser evitada. – (disse Mininho).
— O que me toma os nervos é o fato de não saber o que virá. – (disse-lhes Simone). — Não deveis temer o que vem por aí, pois a bondade sempre se sobressai ao mal. – (afirmou o passarinho azul). — Qual é o teu nome? – perguntou-lhe Simone). — Meu nome é Pirílio. – (respondeu-lhe o pássaro). — Donde vens? – (perguntou-lhe o coelho). — Venho dos quatro ventos da terra. – (respondeu-lhe a ave). — Deves ser um exímio viajante! – (exclamou Tod). — Nem tanto, pois por agora estou de férias. Mal vejo a hora de voltar a viajar. – (disse-lhe Pirílio).
— Não gostarias de ficar para a festa? Ainda hoje haverá casamento. – (disse Simone). — Não sei se devo ficar, pois meus filhotes ficaram com a ama de minha alma. (disse-lhes Pirílio enquanto esfregava o bico na pedra). — É deveras pesaroso que tenhas que partir. – (disse Simone). — Não te preocupes. Quiçá no próximo ano eu retorne e vos visite novamente. – (disse o pássaro). — Qual é o teu maior sonho? – (perguntou o coelho). — Deixar de voar. – (respondeu-lhe Pirílio). — E por que desejas tamanho absurdo? – (perguntou-lhe Simone).
— Não me tenhas por infrator, mas estou cansado de tanto voar. Minhas asas estão doridas de tanto fazer esforço. Conheço este mundo palmo a palmo. – (disse-lhes o pássaro em um tom de pesar). — Mas, porque deixarias de voar, se é da liberdade que se alimentam os pássaros? – (perguntou-lhe Mininho). — Não te precipites, pois a liberdade também pode alienar a alma. – (respondeu-lhe Pirílio). — Espero de todo o meu coração que não te desvies de teu propósito, e que os girassóis iluminem o teu caminho. – (disse-lhe Simone). — Certamente! Doravante, cuidarei mais de minha família. Até algum dia! – (exclamou o passarinho retirando-se do meio deles).
Capítulo 3
(Preparativos)
— Que faremos agora? – (perguntou-lhes o coelho). — Agora vamos enfeitar o jardim para o casamento de Edgar. – (respondeu-lhe Simone). — Mas será que o tempo nos será favorável? – (disse-lhe Mininho). — O tempo cuidará de si mesmo. – (respondeu-lhe Simone calmamente). Sendo assim, Simone e seus amigos se apressaram a enfeitar o jardim para a cerimônia do casamento. Apesar do fato de o jardim ser bonito por si só, no entanto, era necessário colocar alguns enfeites. Raimundo, o coelho, estendeu um longo tapete vermelho pelo caminho.
Mininho pegou uma cesta e colheu flores dos mais variados tipos. Tod preparou o seu minúsculo trompete para tocar durante a cerimônia. Simone estava escrevendo várias cartas para distribuir para os demais moradores daquele lugar. Apesar de tamanha alegria, Simone estava deveras preocupada devido ao aviso que Pirílio, o pássaro azul, lhe havia dado.
Tudo estava muito belo e devidamente colocado. Depois de escrever os convites, Simone foi até o formigueiro que havia no jardim e bateu palmas. Uma formiguinha saiu e disse para ela. — A que vieste, Simone? — Poderias convidar teus amigos trabalhadores para a festa de casamento? – (disse-lhe Simone). — Festa de casamento? – (perguntou outra formiguinha que havia saído do formigueiro com tamanha curiosidade).
— Sim! Casamento. – (respondeu-lhe Simone). — E quando será? – (perguntou-lhe a mesma formiga curiosa). — Será esta noite. – (disse Simone). — Caso precises de um coral para cantar durante a cerimônia temos um grupo que pratica canto todo santo dia). – (disse-lhe a primeira formiga). — Toda ajuda é bem-vinda! – (exclamou Simone alegremente). — Estaremos presentes, todas as formigas da comunidade. – (disse-lhe a primeira formiga). — Grata! – (respondeu-lhe Simone).
Após convidar as formigas, Simone entregou alguns convites para Raimundo, Mininho e Tod, o ursinho. Todos eles ficaram contentes com a ideia de convidar os demais moradores de girassolândia para o casamento. No entanto, Seneco, o agricultor, estava ocupado cuidando da horta de sua casa. Será que ele terá tempo de ir para o casamento?
Capítulo 4
(Conversando)
Simone estava preocupada, pois Seneco estava em sua casa. Já era de tarde. A menina decidiu então ir até a casa dele para avisá-lo acerca da festa que estava prestes a acontecer. Os outros amigos de Simone estavam convidando os demais moradores de girassolândia. Durante a ida, Simone encontra-se com o famoso caracol. Seu nome era Ovídeo. — Donde vens? – (perguntou-lhe Simone). — Estava passeando pelos campos, até o momento em que me disseram sobre um tal casamento. – (respondeu-lhe Ovídeo, o caracol).
— Quem te contou acerca do casamento? – (perguntou a menina). — As borboletas da Primavera contaram-me sobre a boa nova. – (respondeu-lhe Ovídeo). — Se quiseres, posso levar-te para o local onde será o casamento. – (disse-lhe Simone). — Não é necessário, minha cara. Vou eu mesmo sozinho. – (disse-lhe o caracol pacientemente). — Mas não será muito trabalhoso para ti? Já se fez tarde. – (disse-lhe Simone). — Que queres dizer com isto? – (perguntou-lhe Ovídeo suspeitando da pergunta). — Tu és um caracol. Podes acabar chegando tarde para o casamento. – (disse-lhe a garota).
— Estás insinuando que eu sou lerdo? – (perguntou-lhe o caracol sentindo fervilhar os nervos). — Não. Não é isso que eu estou dizendo. É que a distância para chegar no jardim é muito grande. – (respondeu-lhe Simone meio sem graça). — Ainda falta muito para chegar ao local do jardim? – (perguntou-lhe). — Faltam três quilômetros para chegar ao jardim. – (respondeu-lhe Simone). — Como sabes? – (perguntou-lhe o caracol). — É que costumo visitar o meu amigo Seneco todos os dias. – (respondeu-lhe Simone).
— Entendo! Podes ficar tranquila, pois chegarei a tempo de assistir ao casamento. – (disse-lhe Ovídeo). — Posso perguntar-te algo? – (disse-lhe Simone). — Que é? – (perguntou-lhe o caracol). — Não te incomoda o peso da concha que carregas? – (perguntou-lhe Simone). — Porque estás me perguntando isso? – (perguntou-lhe o molusco). — É que não consigo imaginar viver assim carregando um fardo tão pesado. – (disse-lhe Simone).
— Incomoda-me o fato de te admirares com isto, pois minha concha é leve e eu não me incomodo de andar com ela. Quando estou triste, recolho-me para dentro dela e fico chorando minhas dores. E quando alguém me ataca eu a uso como um escudo. – (disse-lhe o caracol). — E tu não te incomodas com os comentários maliciosos dos outros? – perguntou-lhe Simone. — Não, pois sei que todo fardo pode ser usado como uma dádiva. – (respondeu-lhe o caracol).
— Espero que chegues a tempo para o casamento. – (disse-lhe Simone). — Obrigado! Até mais. – (disse-lhe Ovídeo). Simone prosseguiu em seu caminho rumo à casa de Seneco, o agricultor.
Capítulo 5
(Segredos)
Raimundo estava profundamente empenhado em convidar os moradores de girassolândia. Mininho e Tod andavam juntos, passando pelas árvores e convidando os castores e os esquilos para a festa de casamento. Seneco ainda cuidava de sua horta, pois sua obrigação diária era exatamente essa. Ainda faltavam mais alguns quilômetros para Simone chegar à casa de seu amigo Seneco. Raimundo já estava com a respiração ofegante de tanto caminhar, até o momento em que ele cruza o caminho com o sacerdote que iria realizar o casamento de Edgar.
Raimundo fica estupefato e engole seco. O sacerdote olhava para Raimundo com certa desconfiança, pois bem conhecia seu passado duvidoso. Embora Raimundo estivesse caminhando na direção do sacerdote, o seu desejo era que suas pernas dessem meia volta e percorressem o caminho contrário. A cada centímetro aproximado o coração de Raimundo batia cada vez mais forte. O sacerdote olhou firmemente para o coelho e introduziu-lhe o diálogo. — Fico feliz em rever-te, nobre Raimundo. – (disse-lhe o sacerdote). — Vª. Imaculação acredita que eu estava justamente pensando em falar com o senhor. – (disse-lhe Raimundo em um tom de falsidade).
— Imagino eu que estejas convidando os moradores de girassolândia para o casamento, não? – (perguntou-lhe o sacerdote). — Sim. Simone me deu esta missão da qual sou emissário. – (respondeu-lhe Raimundo engolindo seco novamente). — Pareces-me um tanto quanto apreensivo. – (disse-lhe o sacerdote). — Não, não! É que estou um pouco ansioso pelo momento do casamento. – (disse-lhe o coelho). — Bom, então... preciso ir-me. Vejo-te na cerimônia do casamento. – (encerrou-lhe a conversa). — Até, Vª. Imaculação! – (exclamou Raimundo enquanto balançava o braço em forma de despedida).
O sacerdote era um pato muito reverente à santidade divina. Embora conhecesse Raimundo muito bem, sabia que ele estava escondendo algo. Só não sabia o que era.
Capítulo 6
(Missão)
Mininho e Tod estavam trocando diálogos no meio do caminho. — Verdade! Ela é tão especial quanto às flores de que cuida. – (disse-lhe Mininho). — Às vezes fico aqui pensando como foi que o mundo afora desproveu-se de tamanha beleza. – (disse-lhe Tod). — Um dia ainda teremos as respostas de que tanto necessitamos, meu caro morango. – (disse-lhe Mininho). — Creio em parte que as pessoas estejam mais preocupadas com o desnecessário. – (disse-lhe o urso). — Ou talvez elas só estejam tateando pela direção verossímil. – (respondeu-lhe o morango olhando para seu amigo).
Enquanto andavam pelo caminho, duas borboletas aproximaram-se deles e puxaram assunto. — Bem quiséramos comparecer ao casamento, mas precisamos ajudar nossas outras amigas no processo de metamorfose. – (resmungou a primeira borboleta). — Nossas amigas lagartas passaram por um momento muito difícil de suas fases e pode haver uma grande possibilidade de elas partirem no meio do processo. – (disse-lhes a segunda borboleta). — Não te preocupes com isso, pois toda vida é passível de sofrimento. E qualquer cerimônia torna-se obsoleta quando a vida escorre pelas mãos. - (disse-lhes o urso).
— Ficamos satisfeitas em saber que vós não ficais angustiados pela nossa ausência. – (disse-lhes a primeira borboleta). — Não vos preocupeis, pois toda emergência se torna uma prioridade. – (disse-lhes Mininho). — Agradecemos por vossa compreensão. – (agradeceu-lhes a mesma borboleta). As borboletas então partiram. Tod e Mininho eram uma dupla infalível. Dois amigos inseparáveis. O sentimento que lhes unia era fiel e verdadeiro. Certa vez Mininho ajudou o urso Tod a livrar-se do abismo de uma cachoeira. Tod era um andarilho por terras longínquas e distantes.
O urso ajudou Mininho a vencer o auto preconceito, pois ele considerava-se extremamente pequeno, muito embora sua aparência fosse agradável aos olhos. Tod simplesmente disse ao seu amigo que o tamanho é irrelevante diante da bondade, pois um bom caráter vale mais que o ouro. E foi assim que ambos tornaram-se amigos. Após andarem alguns metros à frente apareceu-lhes Frequeco, o urubu. Ao que tudo indicava, o urubu estava um tanto quanto preocupado. — Vós não sabeis da nova. – (disse-lhes o urubu respirando ofegantemente).
Capítulo 7
(Um pedido de ajuda)
— Que aconteceu? – (perguntou-lhe o urso). — Machí está em grandes apuros. – (respondeu-lhe Frequeco). — O cachorrinho da raça pinscher? – (perguntou-lhe Mininho). — O próprio! – (respondeu o urubu enquanto abria suas asas em forma de alerta). — E tu estás pedindo a nossa ajuda, ao que nos parece? – (perguntou-lhes Tod). — De certa forma. – (respondeu-lhes). — Onde ele está? – (perguntou-lhe Mininho). — Ele está em cima de uma jabuticabeira. – (respondeu-lhes o urubu). — Mas, como cargas d’água ele foi parar lá em cima? – (perguntou Tod).
— Pelo que fiquei sabendo os gaviões aprontaram essa com o pobre pinscher. – (disse-lhes o abutre). — E porque eles fariam tamanha perfídia com o pobre coitado? – (disse-lhe o morango). — Machí sempre foi um pinscher abusado. – (disse-lhes Frequeco). — Se bem que eu tenho ouvido tais rumores acerca do mesmo. – (disse o urso). — E não é só isso. Parece-me que ele tem destruído as plantações de Seneco. – (disse-lhes o abutre). — Seneco? – (exclamou o morango surpreso). — Sim! – (respondeu o urubu).
— Seneco é nosso amigo desde que chegamos até aqui em girassolândia. – (disse Tod). — Não imaginava que Machí fosse tão afoito assim. – (disse-lhes o urubu). — Bem... isso não importa agora. Precisamos ajudar o nosso pequeno amigo pinscher. – (disse o urso). — Mas, como o ajudaremos, visto que não temos nenhuma ferramenta que nos auxilie? – (disse Mininho). ¬— Seneco é agricultor. É provável que tenha um machado. – (sugeriu-lhes o abutre). — Acredito que não, pois apesar de ser um agricultor ele nunca ousou empenhar tal ferramenta. – (disse-lhe o urso). — Ué, e porque não? – (perguntou-lhes Frequeco).
— Esta é uma longa história sem precedentes. – (disse Mininho enquanto coçava a cabeça). Seneco era um homem deveras cuidadoso com suas plantações. Cada planta, cada hortaliça, cada folha era sagrada para ele. Sua paixão pela natureza era imensa, razão esta que o mantinha cativo por sua profissão. Simone já estava chegando à casa de Seneco para alertá-lo sobre o casamento. Mininho e Tod estavam preocupados, pois eles não sabiam se algum tempo lhes restaria para voltarem para o lugar onde seria realizada a cerimônia. Embora eles estivessem decididos a ajudar o pobre pinscher o relógio não lhes era tão favorável quanto desejavam, pois a tarde já estava terminando e o sol já estava prestes a se despedir.
Capítulo 8
(Falta-nos pouco tempo)
Simone enfim chegara à casa de Seneco. Ele estava no quintal de sua casa com um regador de plástico em forma de elefante na cor verde. Simone recobra os ânimos enquanto Seneco estava de costas cuidando de suas plantas. Depois que ele levantou-se notou que a menina estava próxima a ele. — Não é uma maravilha? – (perguntou-lhe Seneco). — Sim, tu estás deveras suado. – (disse-lhe Simone enquanto um sorriso aparecia no canto de sua boca). — Se pudesse passaria o dia inteiro ao lado delas. – (exclamou Seneco intrepidamente).
— Tu não vais para a cerimônia? – (perguntou-lhe Simone). — Claro que vou. Não perderia esta dádiva por nada. – (disse-lhe ele enquanto expulsava as gotas de suor da face). — O sol está se ofuscando e a cerimônia está prestes a acontecer. – (disse-lhe Simone meio sem jeito). — Preciso tomar um banho. Podes esperar-me? – (perguntou-lhe Seneco). — Eu espero sim. Destarte será uma única viagem. – (respondeu-lhe Simone ludicamente). — Queres tomar um chá, ou quiçá uma fruta? – (perguntou-lhe Seneco em um tom agradável).
— Prefiro um copo d’água. – (respondeu-lhe Simone alegremente). — Senta-te! Tem uma cadeira logo aí debaixo desta mangabeira. – (apontou-lhe a direção onde estava a árvore). — Grata! – (agradeceu-lhe Simone). Seneco entrou em sua casa para tomar banho. Sua alegria para ir ao casamento era tão grande que dava para ouvi-lo solfejando de seu banheiro. A música que saía ecoava de dentro do banheiro dizia o seguinte:
♫São duas almas belas que se unem com amor
e os anjos se alegram com tamanho esplendor
um sapo e uma sapa hoje vão se ajuntar
felicidade eterna hoje à noite haverá♫
Simone estava sorrindo devido à voz de Seneco que era tão desafinada. Raimundo já estava na metade do caminho de volta para o local do casamento.
Capítulo 9
(Quem canta os males espanta)
Boa parte dos convidados já estava no jardim principal. O sacerdote estava colocando seus óculos para ler os textos sagrados. Edgar já estava no altar todo arrumado. Ele estava usando um paletó chiquérrimo e uma gravata vermelha. O nervosismo lhe corria pelas veias, de certo modo. Enquanto isso Matilda ainda estava se arrumando. Cochichos e falácias eram trocados no meio da cerimônia. O sacerdote estava usando a sua estola eclesiástica.
Tod, Mininho e Frequeco estavam no local onde o pobre pinscher estava. Ao que tudo indicava, Machí estava tão melancólico que não queria pular do pé-de-jabuticaba. — Vamos, pequeno amigo! Desça daí! – (disse-lhe o urubu). — Não vou descer! – (exclamou o pinscher em alta voz). — Tu achas que o mundo mudará a teu favor se permaneceres aí a noite toda? – (disse-lhe Tod). — É razoável que o mundo se compadeça das minhas aflições! – (exclamou-lhes novamente o cachorro). — Escuta! Escuta tão somente o que vamos cantar. – (exclamou-lhe Mininho).
— Que vais fazer? – (perguntou-lhe o urso). — Lembra-te daquela canção que cantávamos toda vez que o mundo parecia mais triste? – (perguntou-lhe o morango). Após um pequeno espaço de tempo, Tod lembrou-se da canção e respondeu. — Lembrei agora! – (respondeu-lhe o urso). — Que canção é essa? – (perguntou-lhes o urubu). — O hino de nº 375. – (disse-lhe Mininho). — Confesso que não conheço esta canção. – (confessou-lhe Frequeco). — Não te procupes! Apenas observa! – (exclamou-lhe o morango).
Machí estava profundamente angustiado. — Não quero ouvir-vos! – (resmungou o pinscher enquanto chorava). Os dois começaram a entoar o hino de nº 375:
♫Existe um oceano tão profundo quanto o mar
são águas cristalinas que são de se admirar
e quem beber da água nunca mais vai se frustrar
o espírito é jovem e não deve se abalar♫
À medida que o pinscher ia ouvindo a canção, a angústia ia lhe abandonando.
Capítulo 10
(Casamento)
Machí mudou de ideia e então lhes disse. — Não sei explicar, mas estou me sentindo bem melhor. — Eu não disse que te sentirias melhor? – (disse-lhe Mininho enquanto olhava e sorria para Tod). — Onde foi que aprendeste tão coisa? – (perguntou-lhe o cachorro). — Meus pais cantavam esta canção toda noite para mim. – (respondeu-lhe o morango). — Tu me ensinas depois que eu descer da árvore? – (perguntou-lhe o pinscher). ¬— Agora não vai dar, pois já é noite, e a cerimônia está prestes a acontecer. – (respondeu-lhe Mininho).
— Mas, como será possível um cachorrinho de minha estatura conseguir tamanha façanha? – (disse-lhe o pinscher). — Frequeco pode muito bem voar até aí em cima e descer-te usando as pernas. – (disse o urso). — Infelizmente não será possível, pois minhas pernas são frágeis desde que eu era só um filhote. Eu poderia soltar Machí do alto da árvore e o pobre coitado acabaria quebrando as pernas. – (escusou-se o urubu). ¬— Que faremos, então? – (disse-lhes o marango).
Enquanto os pequenos amigos pensavam em uma solução para tal problema, Caquito, o chimpanzé, apareceu-lhes. — Precisais de ajuda? – (perguntou-lhes o primata). — Sim! – (respondeu-lhe Frequeco). — Fiquei sabendo da confusão entre o amigo pinscher e os gaviões. – (continuou o macaco). — Enfim! Podes tirar-me daqui de cima, ou não? – (perguntou-lhe Machí já irritado). — Calma, alto lá! – (interrompeu lhes o macaco). — Antes, terás de responder uma charada! – (continuou o primata em seu discurso). — Não temos tempo para charadas. – (respondeu-lhe Tod rispidamente). — É toma-lá-dá-cá! Ou isso, ou nada! – (disse-lhes o macaco).
— Tudo bem, mas sejas breve! – (disse-lhes o pinscher). — São doze senhoras. Todas têm meia, mas não têm sapato. O que é? – (lançou-lhes a charada). — Como é? – (perguntou-lhe o urubu). — Repete, por favor! – (disse-lhe o cachorro). — Só mais esta vez! São doze senhoras. Todas têm meia, mas não têm sapato. O que é? – (disse-lhes o macaco novamente). Depois de um minuto de silêncio Mininho reuniu-se com Tod e Frequeco numa espécie de abraço em grupo. — Que diremos meus amigos? – (disse-lhes o morango).
— Sei lá! Inventa! – (disse-lhes Frequeco em voz baixa). — Mas, se dissermos a ele que não sabemos a resposta ele irá embora e nós ficaremos na mesma situação. – (disse-lhes Tod). — O que é que vós estais cochichando aí? – (perguntou-lhes o cachorro curioso). — Cala essa boca! – (exclamou-lhes o ururbu). Caquito estava esperando ouvir alguma resposta sensata. Depois de tanto e tanto conversarem, Mininho tomou uma posição e lhe respondeu. ¬— Não sabemos!
Caquito, o chimpanzé, olha seriamente para eles e depois abriu-lhes um sorriso amistoso dizendo. — Que coisa, porque eu também não sei. O macaco começou a sorrir tagarelamente provocando-lhes tamanha indignação. Frequeco então deu-lhe uma bicada dizendo. — Paspalhão! Se não sabes a resposta, então porque nos lançaste essa charada? — Calma, amigos! Só quis fazer uma brincadeira amistosa convosco. – (disse-lhes o primata). — Vais nos ajudar, ou não? – (resmungou o urso). — Claro que vou! – (respondeu-lhes o macaco).
Caquito subiu na árvore, tomou o pinscher em seus longos braços e desceu com ele. Após descer o animal da árvore, o macaco ainda dando umas boas risadas, perguntou-lhes. — Que fareis agora? — Temos que ir ao casamento de Edgar, o sapo. — Posso ir convosco? – (perguntou-lhes Caquito). — Claro que sim! – (respondeu-lhe Mininho). — Que estamos esperando? Vamos! – (exclamou o primata). Sendo assim, os nobres amigos foram para o casamento. Simone e Seneco já estavam no jardim principal esperando a noiva chegar.
Edgar não parava de ajeitar a gravata da qual estava usando. As formigas já estavam agrupadas para o coral. A formiga-maestro estava com sua vareta preparando-se para reger o coral. Raimundo estava na porta da entrada recebendo os convidados dos quais havia convidado. Os convidados que estavam presentes continuavam a cochichar aos ouvidos uns dos outros. Eles estavam falando sobre as roupas elegantíssimas de Edgar, o noivo. O sacerdote estava murmurando as palavras preparando-se para a realização da cerimônia.
Foi então que Matilda, a sapa, chegou acompanhada de seu pai e sua mãe. O pai de Matilda conduzia a carruagem de forma exemplar. Ao pararem no local, Matilda contou com a ajuda de Raimundo para descer. O pai e a mãe dela também desceram da carruagem. O véu cobria o rosto de Matilda causando tamanha curiosidade nos convidados. Simone recebeu o buquê das mãos de Calipa, mãe de Matilda e posicionou-se atrás da noiva. Edgar estava deveras ansioso pelo momento de beijar a noiva. A formiga-maestro fez o gesto em forma de ordem para o coral começar a cantar. E assim começaram a cantar:
♫Aí vem a noiva
com seu vestido
o noivo aguarda
extrovertido♫
Matilda desfilava elegantemente pela passarela vermelha. Olhares percorriam seu trajeto. Sorrisos eram expostos sem nenhum receio. Após o pai acompanha-la até à frente, Cervílio, pai de Matilda, olhou firmemente para Edgar como se o estivesse reprovando. Edgar estava tão contente que isso passou despercebido aos seus olhos. O sacerdote pigarreou formalmente e depois pediu através de gestos para que os convidados ficassem em silêncio. Edgar ficou frente à frente com sua esposa. Após os convidados ficarem em silêncio o sacerdote começou.
— É diante da Providência que estamos aqui reunidos para celebrar a união entre o sapo Edgar e a sapa Matilda. Se alguém tiver alguma objeção ou for contra este casamento que fale agora ou cale-se para sempre. – (disse o sacerdote esperando alguma manifestação). Alguns poucos estavam pigarreando enquanto um ou dois tossiam baixinho. Vendo que não havia nenhuma objeção, o sacerdote prosseguiu com a cerimônia. — Edgar! Tu prometes ser um bom marido, na saúde, na alegria, na doença ou na tristeza? – (perguntou-lhe o sacerdote). Edgar sorriu para Matilda e respondeu em alto e bom som. — Sim!
O sacerdote virou-se para Matilda e perguntou-lhe. — Matilda! Tu prometes ser uma boa esposa, na saúde, na... — Prometo! – (interrompeu-lhe Matilda ansiosa pelo momento final). O sacerdote deu um suspiro e assim declarou-lhes. — Sendo assim, eu vos declaro marido e mulher! Simone começou a bater palmas e juntamente com ela Seneco e os demais convidados. Os olhos dos convidados estavam brilhando ansiosos pelo grande momento. O sacerdote declarou então. — O noivo já pode beijar a noiva! Mininho, Tod, Frequeco, Machí e Caquito chegaram no exato momento em que Edgar estava tirando o véu que cobria o rosto de Matilda.
Os corações batiam mais forte. Simone estava esperando pelo momento do beijo, como se estivesse vendo os ponteiros do relógio passarem. Após tirar o véu, Matilda sorriu e fechou os olhos intensamente. Edgar direcionou-lhe o rosto para beijá-la, mas no momento em que os dois iam selar o beijo, gotas d’água começaram a cair. Os convidados permaneceram firmes, pois já estavam acostumados com a chuva. Simone olhou para Seneco e lhe disse sorrindo. ¬— Então era este o presságio do qual Pirílio havia nos avisado?
— Já enfrentamos tantas coisas que uma chuva como esta se torna algo superficial. – (disse-lhe Seneco sorrindo também). Edgar olhou novamente para Matilda e deu-lhe aquele beijo apaixonado. O sacerdote encerrou a cerimônia dizendo. — Pois bem, agora vós estais oficialmente casados. Edgar abraçou sua esposa carinhosamente. Os pais de Matilda a observavam contentes com sua felicidade e satisfação. Tod pegou seu trompete e começou a tocar a melodia da união. Mininho pegou seu pequeno tambor e começou a acompanha-lo ritmicamente. Raimundo formou um círculo juntamente com Simone e Seneco.
Caquito acompanhava alegremente batendo palmas. Machí balançava o rabinho em forma de contentamento. Os convidados formavam círculos em volta da pequena Simone, o coelho Raimundo e Seneco. Edgar e Matilda estavam no centro do círculo dançando ao som do ritmo. Todos começaram a cantar:
♫Tem coisa mais singela que a própria união?
fazer muitos amigos e parceiros de montão
brincar o dia todo e também se divertir
andar, correr, saltar, se esconder, pular, sorrir♫
E a alegria tornou-se o símbolo de todos os moradores de girassolândia, uma terra bela e frutífera, onde o mal não existe, e onde os corações são sempre repletos de bons sentimentos. Simone eternizou sua amizade com os moradores daquela região, pois sua alegria era contagiosa e a tristeza não ocupava nenhum espaço em seu bondoso coração. E assim viveu Simone mais um dia na Terra dos Girassóis.
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