As lágrimas escorriam pela folha de papel. Em meio à letras, pontuações e vírgulas, Bruno tentava engolir o choro a todos custo. Havia flores vermelhas enfeitando o túmulo de sua querida e jamais esquecida mamãe. Enquanto recitava os versos poéticos, o garoto se lembrava das vezes em que ambos iam à igreja para rezar. Mônica era uma mãe exemplar, e também uma mulher muito religiosa. Sempre que Bruno adoecia, ela cuidava dele como se estivesse cuidando da própria mãe. Embora a vó do menino tivesse partido muito cedo, ela tivera muitos momentos felizes com seu amado neto. O pai era um homem violento, e batia quase todos os dias no rosto da mãe de Bruno. Mônica o denunciara para a polícia e depois disso ele fora levado preso. O pai do menino fora assassinado na prisão por um dos detentos. Uma facada certeira no estômago, e sua vida chegara ao fim. Enquanto isso, Mônica e seu filho aproveitavam a vida. Na escola, tudo ia de bem a melhor. Bruno tirava boas notas e fazia muitas amizades. A vida parecia tão doce quanto um pote de mel silvestre, até o dia em que Bruno chegara da escola e encontrara sua mãe deitada no chão da sala com os olhos fechados. O garoto, atordoado, puxou pelas roupas de sua amada mãe na tentativa de reanimá-la. No entanto, suas tentativas foram totalmente inúteis. Os vizinhos, ouvindo os gritos de desespero do pobre garoto, chamaram a ambulância, porém era tarde demais. No mesmo dia em que sua mãe falecera ela fora enterrada. Coincidentemente, aquele data era 2 de Novembro, coisa que Bruno não fazia a mínima ideia. A vizinha que morava ao lado e e era amiga de Mônica vestiu o pobre garoto com o terno preto do qual ele usara no dia do seu abecedário. Enquanto a vizinha ajeitava a gravata vermelha, o menino relembrava os momentos felizes nos quais passara com sua mãe. As festas de aniversário, os passeios no zoológico, as idas ao teatro, tudo isso se passava pela cabecinha da criança. Depois de arrumado, ele foi até o seu quarto, puxou a gaveta da cômoda, e pegou uma folha de papel que continha algumas palavras. No cemitério, depois que o caixão fora enterrado, Bruno pediu para a vizinha que o acompanhava um momento de privacidade. A vizinha, com lágrimas nos olhos, concordou e disse que estaria esperando-o na entrada do cemitério. As demais pessoas que estavam presentes também se retiraram deixando o garoto assim a sós com a sua então falecida mãe. Enquanto as lágrimas molhavam a folha de papel, ele engoliu o choro com muita dificuldade e começou a ler:
És o Sol que me alumia
és a fonte de harmonia
tens o cheiro de uma flor
és sinônimo do amor
Sou teu filho desejado
em teus braços me acolheste
és o céu tão estrelado
com amor concebeste
Teu abraço é como mel
tua voz é companhia
tu me levas para o céu
no calor de um belo dia
Tu és tudo o que eu tenho
minha flor tão perfumada
de onde vais ou de onde venho
és a luz da alvorada
Após ter lido tais versos, Bruno foi tomado por uma comoção desmedida. Sendo assim, a criança chorou amargamente enquanto soluçava. Seu futuro era incerto. Sua alegria fora roubada, e seu sorriso fora apagado. De repente, eis que começara a chover. A vizinha foi até onde o menino estava e o levou de volta para casa. O papel que estava nas mãos de Bruno ficara ensopado devido à chuva. No entanto, ele o colocara de volta na gaveta da cômoda de seu quarto. E a chuva marcou aquele dia repleto de saudades com suas gotas amargas.

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