Uma das coisas que têm marcado a nossa sociedade atual tem sido o egoísmo. Embora seja aparentemente fácil de compreender quais as razões que levam determinada pessoa a se comportar dessa forma, não é tão simples assim. Eu, por exemplo, já fui uma pessoa extremamente egoísta, embora eu nunca tivesse muita coisa para compartilhar. Lembro-me do terceiro ano do Ensino Fundamental, mais precisamente nos últimos meses do ano, em que os professores fizeram o amigo oculto. Minha mãe comprou uma moto de brinquedo bem bonita. Se eu me lembro bem, a moto de brinquedo havia lhe custado dez reais. No dia do amigo oculto eu levei a moto de brinquedo embrulhada. Por coincidência, a pessoa que tirei no amigo oculto foi mesma pessoa que me tirou. Na hora de nos presentearmos, ele me deu o meu presente e eu dei o presente dele. Assim que ele rasgou o papel-presente ele ficou surpreso, pois ele havia gostado bastante do presente que eu lhe dera.
No entanto, assim que eu abri o meu, tive uma grande decepção, pois era um carrinho com bois de plástico que custava naquela época um ou dois reais. Fiquei frustrado e disse a ele que me devolvesse o presente. Porém ele me empurrou e me disse para deixá-lo em paz. Daquele dia em diante nunca mais eu participei do amigo oculto. Talvez nem tenha sido ele que tenha escolhido o presente. Pode ser também que a família dele fosse extremamente pobre e não tivesse as devidas condições para dar um presente que estivesse à altura. Ou talvez o coleguinha de turma e sua família fossem egoístas e só pensassem em si mesmos. Em nossos dias atuais, o egoísmo tem sido estimulado de forma violenta em muitos âmbitos. Vivemos a era do “Narcisismo”, uma era onde a lei da sobrevivência é “Cada um por si e Deus por todos”. Como se não bastasse, o triste fato de viver uma vida alienadamente egoísta, Deus ainda tem a obrigação de cuidar de todos os seres humanos deste planeta.
Não quero pagar uma de bom moço, mas fico entristecido quando vejo um morador de rua pedindo um mísero trocado em troca de sua sobrevivência. Várias e várias pessoas passando por ele como se tal pessoa não tivesse nenhum tipo de valor. Inclusive pessoas que se dizem cristãs e que amam a Deus. Aí quando o Natal se aproxima começam as campanhas de arrecadações de alimentos para ajudar os carentes. Bom! Pelo menos isso. Não quero bancar o santo do pau oco, mas eu sempre me perguntei da seguinte maneira: Será que é só no mês de Dezembro que os pobres sentem fome? E nos outros meses do ano? Quer dizer que de Janeiro a Novembro a fome desaparece? Não estou dizendo com isso que todas as igrejas ou que todas as instituições filantrópicas são assim. Apenas estou refletindo sobre a constante necessidade de se ajudar uma pessoa necessitada.
Muitos líderes religiosos pedem ofertas e contribuições sob o pretexto de que irão fazer “A obra do Senhor” nos países do continente africano. Eles falam isso como se a fome não existisse aqui em nosso país. Basta você sair de casa e visitar alguns de seus vizinhos, e você verá que uma certa quantidade de pessoas necessita de uma cesta básica. De acordo com o site bancodealimentos.org.br, 125 milhões de pessoas no Brasil vivem em situação de insegurança alimentar. E tem mais. De acordo com o mesmo site, 60 Kg de comida são desperdiçados a cada ano. Isto desrespeito a mim e também desrespeito a você. Com estas informações, temos a compreensão de que nós nos tornamos responsáveis por nossas próprias ações e decisões.
Novas pesquisas da Universidade da Califórnia (Berkeley) sugerem que os indivíduos altamente religiosos são menos motivados pela compaixão ao ajudar um estranho do que os ateus, agnósticos e pessoas menos religiosas. Em três experimentos, cientistas sociais descobriram que a compaixão sempre levou pessoas menos religiosas a serem mais generosas do que pessoas religiosas. Para as pessoas com um alto grau de religiosidade, no entanto, a compaixão não estava muito relacionada com a sua generosidade, segundo as conclusões publicadas na revista Social Psychological and Personality Science. Estes dados nos provam de que uma pessoa não precisa ter religião para ser piedosa ou benevolente. Conheço muito cristão egoísta, mas conheço cristãos caridosos também. Aproveito a oportunidade para enaltecer o trabalho que meu cunhado tem realizado. O propósito deste trabalho voluntário não é promover a religião, e sim o direito de cada ser humano que é ter o que comer no dia de amanhã.
Não podemos generalizar e dizer que todos são de um jeito ou de outro. O que podemos afirmar é que o egoísmo tem sido motivado pelos meios de comunicação tradicionais, pela influência de algumas celebridades, pela própria natureza humana, e porque não pela inversão de valores que é constantemente divulgada na sociedade, bem como nas relações interpessoais? Precisamos mais que tudo, independentemente de nossa religião ou ausência dela, nos tornar pessoas mais piedosas, para que o mundo se torne cada vez um lugar com menos desigualdades. Não basta dizer que a responsabilidade é somente das autoridades políticas, pois cada um de nós como sociedade tem o seu devido papel na construção de um mundo melhor. Vamos deixar de ser egoístas?
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